Hoje nós vamos sair um pouco daquilo que
nós estudamos sobre o as datas de nascimento e morte de Jesus, calculadas por
Dionísio, o pequeno, monge de Constantinopla. Uma vez que Jesus morreu,
ressuscitou e subiu aos céus no ano de 33 que outras datas nós temos para que a
gente possa enquadrar na história a Igreja que nasce?
Então, voltando nosso olhar para o Novo
Testamento vamos nos perguntar: qual é o escrito mais antigo do Novo Testamento?
Qual foi a Carta, qual foi o Evangelho ou Atos dos Apóstolos, o que é o mais
antigo no Novo Testamento?
Se vocês forem fazer um estudo científico
vocês descobrirão que foram as Cartas de São Paulo os escritos mais antigos do
Novo Testamento. E, dentro das Cartas a primeira a ser escrita foi a primeira
Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Anotem, que isso é muito importante: a
primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses é o escrito mais antigo do Novo
Testamento. Se nós descobrirmos a data em que ela foi escrita nós então teremos
um marco de quando é que o escrito mais antigo do Novo Testamento foi redigido,
ok?
Então a primeira Carta de São Paulo aos
Tessalonicenses é mais antiga do que os Evangelhos, hein. Não se iludam com a
ordem que vocês encontram aí na Bíblia. Na Bíblia você abre o Novo Testamento e
qual é o primeiro escrito: Mateus, depois Marcos, Lucas e João, Atos dos
Apóstolos, Carta de São Paulo aos Romanos e vai embora. Quer dizer, tem uma
ordem que é uma ordem tradicional, mas essa ordem não é uma ordem cronológica!
Não quer dizer que São Mateus foi escrito primeiro! Provavelmente São Marcos foi
escrito primeiro. E foi escrito depois que todas as Cartas de São Paulo já
estavam escritas. Os Evangelhos foram escritos quando São Paulo já tinha até
morrido! São Paulo morreu e não tinha nenhum Evangelho escrito ainda!
Provavelmente, né. Isso aqui está no campo das probabilidades.
Então, que datas nós temos aí para colocar
com relação a São Paulo? Bom, houve um grande progresso científico quando
arqueólogos descobriram em Delfos, na Grécia, uma inscrição. Nessa lápide de
mármore estava escrito que um sujeito chamado Galeão foi proconsul da Acáia nos
anos de 51 e 52. Por que é que esse achado arqueológico é importante? Porque, se
nós formos olhar nos Atos dos Apóstolos, capítulo 18 versículo 12 nós vamos ver
que São Paulo foi julgado por esse sujeito. Por esse Galeão! Então se Galeão foi
procônsul da Acáia nos anos de 51 e 52 e São Paulo foi julgado por ele nós
podemos então ter a data precisa em que São Paulo esteve em Corinto na sua
segunda viagem missionária. Então isso é um marco histórico que nós temos da
data da vida de São Paulo. Então o ano de 51 é um ano importante! Por que?
Porque no ano de 51 nós sabemos que São Paulo se encontra em Corinto, que ele é
julgado pelo procônsul Galeão, e a, a partir daí, nós podemos fazer o cálculo
das coisas. Ora, São Paulo foi julgado por Galeão no verão de 51. Mas ele já
estava lá em Corinto antes, porque ele só foi levado para ser julgado depois que
ele tinha feito bastante arruaça! Então São Paulo passou o inverno de 50 para 51
(vamos lembrar que o inverno europeu começa em Dezembro, não é? O solstício de
inverno é 21 de Dezembro), ou seja, Dezembro, Janeiro e Fevereiro lá em Corinto.
E foi nesta parada técnica que São Paulo escreveu a Carta aos Tessalonicenses.
São Paulo já tinha estado em Tessalônica.
Na cronologia se vocês forem ver a segunda
viagem missionária de São Paulo a primeira comunidade que São Paulo funda em
solo europeu é a comunidade de Filipos. Depois ele desce para Tessalônica e
assim ele vai fundando comunidades passa por Atenas e chega então finalmente em
Conrinto. Nós sabemos que no decurso desta viagem missionária ele fundou a
Igreja de Tessalônica que fica no golfo de Tessalônica; depois vocês podem ver
três penínsulas como se fossem três dedos. Uma dessas penínsulas é importante
para a Igreja Ortodoxa porque é lá que fica o famoso mosteiro do monte Athos.
Bom, mas deixa de lado a geografia, só para saber que Tessalônica está aqui no
golfo, São Paulo desceu, passou por Atenas, e chegou ao hístimo de Corinto.
Vamos lembrar o que é um hístimo: um hístimo é uma estreita faixa de terra que
neste caso aqui liga a península da Acáia ao continente.
A cidade de Corinto era uma cidade
portuária, uma cidade rica, mas como toda a cidade que é de porto tinha também
muita prostituição. E Corinto tinha uma fama de ser uma cidade terrível, uma
cidade devassa. Tem autores que dizem que Corinto era o lupanar de toda a
Grécia. O que é lupanar: lupanar é uma palavra para indicar zona de
prostituição, prostíbulo. Corinto era o prostíbulo de toda a Grécia. Imaginem:
os gregos já não eram muito castos, não é? Grego já não tinha fama de ser casto.
Se Corinto era o prostíbulo da Grécia inteira então o negócio era feio em
Corinto, hein? A devassidão moral em Corinto era tão grande que, em Grego (na
língua Grega) o verbo corintizar era sinal de prostituição. “O que é que fulano
tá fazendo? Ah, ele tá corintizando”. Tá corintizando quer dizer que está se
prostituindo. Essa era a fama de Corinto.
Por que é que Corinto era um porto tão
importante? Por causa do istmo; as pessoas atracavam o navio de um lado do
istmo, descarregavam as mercadorias, atravessavam aqueles poucos quilômetros que
levava até o outro lado do istmo e lá carregavam as mercadorias outra vez para
dentro do navio. Hoje – no século XXI esse problema foi resolvido porque eles
fizeram um canal artificial onde os navios entram. O navio entra no canal para
sair do outro lado. Então hoje os navios já passam por um canal que cavaram
aqui. Então Corinto continua ainda hoje sendo um porto
importante.
Então eles atravessavam por terra (pelo
istmo) para evitar de ter que contornar toda a Acáia e passar pelo mar
revoltado, perigoso, cheio de tempestades. Então eles iam e cortavam o caminho.
Era um atalho que havia aqui.
Pois bem, São Paulo ficou lá em Corinto
durante o inverno de 50 para 51 e lá ele escreveu a sua primeira Carta. A
primeira Carta que nós recebemos, que nós temos notícia. É a primeira Carta de
São Paulo aos Tessalonicenses. Então por causa da estadia de São Paulo em
Corinto, pelo fato de ele ter sido julgado por Galeão no verão de 51 é que nós
podemos calcular e ter certeza de que a primeira Carta de São Paulo aos
Tessalonicenses foi escrita no inverno de 51. E isso é um marco, uma data
importante! Porque nos outros escritos do Novo Testamento a gente quando calcula
a data em que eles foram escritos a gente tem que calcular assim por estimativa:
talvez, por volta de tal ano... Mas por causa da descoberta arqueológica da
inscrição de Delfos a gente pode calcular a data em que a primeira carta de São
Paulo foi escrita.
É POR ISSO QUE O PRINCÍPIO PROTESTANTE É
UM PRINCÍPIO MUITO FRÁGIL! OS PROTESTANTES ELES CRÊEM NA BÍBLIA, ELES NÃO CRÊEM
NA IGREJA! NÃO É ISSO? ELES ACREDITAM NA BÍBLIA, ELES NÃO ACREDITAM NA IGREJA!
MAS SE VOCÊ ACREDITA NA BÍBLIA E NÃO ACREDITA NA IGREJA, COMO É QUE VOCÊ
ACREDITA NA BÍBLIA? PORQUE A IGREJA VEM ANTES DA BÍBLIA!
ENTENDERAM?
E, não somente isso, vocês vejam, levou
cinqüenta anos para se escrever o Novo Testamento. Então, olha só: nós temos a
data do primeiro escrito que é a primeira a Tessalonicenses (50 a 51dc); nós
temos mais ou menos a data do último escrito, que foi o Apocalipse e que foi
escrito por volta do ano 100dc. Levou cinqüenta anos para escrever o Novo
Testamento! Mesmo assim o Novo Testamento não estava pronto! Sabe por que?
Porque precisava passar por todo o processo para saber qual dos livros que
tinham sido escritos era Bíblia e qual livro não era Bíblia! Ou vocês acham que
São Paulo escreveu a Carta aos Tessalonicenses sabendo que ele estava escrevendo
Bíblia? Não gente! São Paulo escreveu um livro, uma Carta para resolver um
problema! Depois a Igreja é que disse “Olha gente, isso é palavra de Deus!” Mas
levou tempo!
Então para a gente ter a lista dos vinte e
sete livros do Novo Testamento gente levou quase todo o segundo século de briga,
de discussão. Então para a gente ter o Novo Testamento levou o quê? Levou quase
duzentos anos! A Igreja precisou esperar duzentos anos para ser Igreja?
Não!
Então é por isso que nós Católicos cremos
primeiro na Igreja e só depois na Bíblia! Pode parecer escandaloso mas é
exatamente isso que está no nosso Catecismo! Se vocês abrirem o Catecismo no
número 119 vocês vão encontrar uma frase de Santo Agostinho que é capaz de
escandalizar qualquer evangélico! Qualquer evangélico que ouvir essa frase vai
pegar e rasgar as vestes, escandalizado! Mas é a fé da Igreja Católica! Santo
Agostinho diz assim: “Eu não creria no Evangelho se a isso não me levasse a
autoridade da Igreja Católica!” Santo Agostinho, senhoras irmãzinhas
Agostinianas.
“Eu não creria no Evangelho se a Igreja
não me mandasse crer!” Santo Agostinho está dizendo aqui – e esta é a fé
Católica – que nós cremos primeiro na Igreja e depois no evangelho. O evangelho
aqui que ele está dizendo é o livro, entendeu? O livro, esses livros que estão
aí.Este livro que está aí ele tem autoridade para nós porque a Igreja o acolheu.
Mas nós antes de crermos nos vinte e sete livros do Novo Testamento nós temos
que crer na Igreja!
E se você parar para pensar, gente, não
tem alternativa gente, é isso mesmo! Não tem como fugir disso! Porque, vamos
fazer um resumo histórico aqui, vamos ver. Vamos retomar tudo aquilo que eu
disse de linha histórica. Que datas mais ou menos nós temos certeza? Nós temos
certeza da data que Jesus morreu, Ressuscitou e subiu aos céus, que é no ano de
33dc. Se discute esta data também, tá? Pode ser que seja no ano 30dc. Então nós
não sabemos exatamente. Nós sabemos que, mais ou menos vinte anos depois (por
volta do ano 50dc) foi escrita a Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Este é
o primeiro escrito do Novo Testamento. Primeira a Tessalonicenses. Por volta do
ano de 70dc foram escritos os primeiros evangelhos. Evangelho de Marcos, Mateus
e de Lucas. E, lá por volta do ano 100 foram escritos o Evangelho de São João, o
Apocalipse, etc.
Ora, nós temos o que aqui? Nós temos um
arco de cinqüenta anos para que fossem escritos do Novo Testamento. Agora, pensa
bem: Jesus pregou o Evangelho por volta do ano 30 e o Evangelho foi escrito por
volta do ano 70 quantos anos de diferença tem isso, gente? São quarenta anos de
distância. Ou você acredita que o Espírito Santo está dando assistência prá esse
cara que está escrevendo ou então você perdeu Jesus. Kbô! Estão
entendendo?
Se você não crê na Igreja, se você não crê
que a Igreja tem uma assistência do Espírito Santo como é que você vai acreditar
em Jesus? Explica pra mim? Estão entendendo?
Os Evangélicos dizem “Não, nós cremos na
Bíblia!” Mas como é que você crê na Bíblia se você não crê na Igreja, seu
infeliz? Se você não crê que o Espírito Santo está lá, dando uma, uma
assistência garantia para esta Igreja de que ela não vai trair a fé? Entendeu o
problema?
Vamos para frente! Continuando o arco de
tempo.
Se você for ver durante todo o segundo
século houve briga, e briga terrível para se decidir quais eram os livros do
Novo Testamento. Vocês vejam por exemplo: tinha um herege chamado Marcião que
não aceitava nenhum dos Evangelhos a não ser o Evangelho de Lucas e não aceitava
todas as Cartas de São Paulo, somente algumas Cartas de São Paulo. Então o cânon
para ele era pequenininho! O Novo Testamento para ele devia ter no máximo uns
dez livros! Enquanto do outro lado tinha seitas gnósticas que tinham muitos
outros Evangelhos. O Evangelho de Maria Madalena, o Evangelho de Tomé, o
Evangelho de Judas, Atos de outros Apóstolos, Cartas de Barnabé, e assim por
diante. Então havia uma pletora de outros livros que eles queriam colocar lá
dentro. Se você for juntar tudo ia dar uns quarenta livros no Novo Testamento.
Um só queria uma meia dúzia de livros. O outro queria uns quarenta
livros.
Foi a Igreja quem decidiu que os livros do
Novo Testamento eram só os vinte e sete livros que nós temos
hoje.
E eu gostaria – e não é supérfluo
recordar, uma coisa que todo o mundo sabe, mas que alguns podem se equivocar –
eu gostaria de lembrar que esses vinte e sete livros do Novo Testamento são os
mesmos vinte e sete livros que são aceitos pelos protestantes!
Porque não tem diferença no Novo
Testamento! A diferença está no Antigo! A nossa Bíblia para a Bíblia deles é
diferente no Antigo, mas o Novo é igual!
Então, ao aceitar os vinte e sete livros
do Novo Testamento eles estão aceitando a autoridade de quem?
Da Igreja!
Católica!
Dos Bispos, que eles
rejeitam!
Agora, isso não é meter a enxada nos
pés?
Então vejam só gente: os protestantes
estão num barco furado! Porque eles não aceitam a autoridade da Igreja e
construíram tudo em cima da Bíblia. Mas ao não aceitar a autoridade da Igreja é
como você sentar num galho e dizer: “Esse galho é aquele galho no qual eu me
sustento!” E você começa a serrar a conexão entre o galho e a árvore! Você vai
cair no chão! Você está metendo a enxada nós pés!
“Mas ele não notam isso
Padre?”
Notam. Os mais inteligentes e estudiosos
notam. Sabem perfeitamente! E é por isso que os protestantes mais estudiosos
estão deixando de crer até mesmo na Bíblia!
Porque ao invés de dar o braço a torcer e
crer na Igreja, o que é que eles fazem? Começam a duvidar da
Bíblia!
Aí começam a dizer: “Será que isso daqui é
verdade? Ah não, isso aqui foi um acréscimo!” Aí vai tirando uns pedaços da
Bíblia e vai dizendo “Isso foi invenção, isso não existiu, isso foi invenção,
isso não existiu...” e daqui a pouco eles estão sem Bíblia.
Vocês vejam que todo o escândalo causado
pelo Dan Brown do “Código da Vinci” é o quê? É o fato de que o Dan Brown está
dizendo para as pessoas “Gente esses quatro Evangelhos que estão aí foram os
quatro evangelhos selecionados pela Igreja Católica porque teve muitos outros
evangelhos que a Igreja não aceitou e colocou fora da Bíblia!” E as pessoas:
“Ah!... meu Deus...” Mas gente a Igreja sabe disso há séculos! Não é possível
você crer em Jesus sem crer na Igreja! Porque se você não crê na Igreja você vai
começar a criar um problema: qual Jesus? Qual dos tantos Jesuses é que eu vou
crer? O do Evangelho de Maria Madalena? O do Evangelho de Judas? Dos Evangelhos
Carbocrassianos? Que Jesus é esse que eu vou crer? Ou eu vou ler os quatro
Evangelhos Canônicos colocados pela Igreja? Entenderam?
Então, entre o Novo Testamento como nós o
conhecemos com seus vinte e sete livros e Jesus nós temos um abismo de quase
duzentos anos. Ou você crê que o Espírito Santo iluminou a Igreja durante esses
duzentos anos e que a Igreja não traiu Jesus ou então meu irmão, vai sobrar
muito pouco Jesus para você acreditar!
Agora, outra coisa – aí é que vem problema
da fé Católica – outra coisa é como é que você acredita na Igreja já que a
Igreja tem tantos membros pecadores. Já que hoje nós olhamos pros Bispos e pros
Papas e sabemos que eles pecam. Aí é que vem a fé Católica para explicar para
você que pecado de Papa e Bispo não tem nada a ver com a infalibilidade da
Igreja! Padre e Bispo pecam! Isso não é novidade prá nós! Nós vamos ver na
história da Igreja! Mas nós sabemos que no meio dos pecados destes homens Deus é
fiel à Sua Igreja! Deus é fiel e não a abandona! Por isso a Igreja Católica
sempre ensina infalivelmente a fé. Você pode ter uma multidão de Bispos rebeldes
contra a Tradição da Igreja. Mas haverá sempre um núcleo da Igreja fiel ao
Evangelho tal qual ele é, tal qual ele foi pregado por Jesus.
Então, qual é a missão de um Bispo, de um
Papa que seja um bom Bispo e um bom Papa, qual é a missão deles? Conservar o
depósito da fé, guardar. Então todo o bom Papa, todo o bom Bispo é
necessariamente conservador. Ele quer conservar. Ele tem que conservar!
Entende?
“Ah, não, nós precisamos nos adaptar aos
tempos modernos”. Esse é o princípio da traição. Você vai se ‘adaptar’ aos
tempos modernos, você vai trair o evangelho. Não tem que adaptar nada! Você tem
que conservar!
Você vai adaptar o quê? A forma de
transmitir! Não é?
Você pode pegar o mesmo evangelho, a mesma
doutrina, o mesmo Jesus, os mesmos sacramentos, você pode pregar como? Cantando
gregoriano ou cantando o iê-iê-iê do Padre Marcelo! Entendeu? Isso é adaptação!
Mas desde que não seja uma traição a doutrina, você não pode trair a doutrina!
Você não pode trair aquilo que é a palavra de Deus, os Sacramentos! Isso tem que
ser conservado! Os Apóstolos não deixaram um manual de Canto Gregoriano. Então
isso não é uma coisa que não possa mudar nunca. O canto, o jeito de cantar pode
mudar. Numa época se canta com o canto gregoriano, noutra época com um coral
polifônico e uma orquestra, como era na época de Mozart. Noutra época a gente
vai e adapta àquela cultura, aquele canto, sempre levando em consideração,
amando o nosso passado. Então a gente vai e diz: “não, eu gosto do canto
gregoriano porque ele é bonito, é belo, mas eu não posso agora exigir que o povo
de Cuiabá que não tem formação cultural suficiente ache que só cantar gregoriano
em latim o tempo inteiro é a coisa melhor do mundo! Eu não posso exigir isso do
Cuiabano!
Deixe ele cantar um pouco em português!
Deixe ele cantar uma boa música, não é? Desde que não seja heresia! Não seja
maluquice! Não seja um ritmo diabólico que inquieta o coração. Então é possível
esse tipo de adaptação. Mas, sabendo que a Igreja tem por finalidade conservar o
Evangelho de Jesus Cristo. Ou você crê que a Igreja não trairá o Evangelho ou
então minha irmãzinha, meu irmãozinho nós estamos na quiçaça. Nós estamos no
mato, no brejo no pior lugar que você quiser.
Então aqui é que está a fé na Igreja. Você
olha para a Eucaristia, você olha para a hóstia, o que é que você vê? Você vê um
pão frágil que pode até mofar que pode até mofar, se a gente não cuidar, não é?
Pode acontecer com a umidade excessiva que mofe a hóstia. Mas você vê que Jesus
está lá. Apesar daquele mofo você olha para a Igreja o que é que você vê na
Igreja quando você abre os olhos? Você vê os pecados do padre Paulo, os pecados
do seu Bispo, os pecados dos Papas mas você crê que a Igreja está sendo
assistida no meio desta tempestade Jesus não vai deixar afundar o barco da
Igreja! Ou a gente crê ou então nós estamos perdidos.
Então a frase de Santo Agostinho é
fundamental: “Eu não creria no Evangelho se a isso não me comandasse a
autoridade da Igreja Católica.” Eu creio primeiro na Igreja e depois nos livros
da Bíblia! Porque não tem Bíblia sem Igreja. Mas houve um tempo em que havia
Igreja sem Bíblia! Sem Novo Testamento, pelo menos! Está
entendendo?
Nós então começamos aqui todo um processo
de compreendermos como é que começa a história da Igreja como é que se dá a
história da Igreja, e como é que nós vamos ligar isto que a Igreja é hoje com
Jesus. Estudar a história da Igreja é importante porque quando a gente estuda a
história da Igreja nós começamos a ter um lastro espiritual para enfrentar os
problemas atuais. Se a gente não estuda a história da Igreja a gente acha que as
coisas são sempre simples, sem problemas, sem debates, sem
discussões!
Quando a gente vê, por exemplo, que São
Pedro e São Paulo e São Tiago discutiram no Concílio de Jerusalém, que eles
brigaram, não é, e chegaram a um acordo; quando a gente vê as discussões dos
hereges querendo tirar livros e colocar livros no Novo Testamento, quando a
gente vê a história das heresias e de toda a confusão a gente vê como, no meio
das brigas e das confusões Deus nunca abandonou a Igreja. As pessoas que vivem a
história naquele momento podem ficar com vertigem, podem ficar dizendo: “Meu
Deus, o que será de nós, o que será de nós?” Mas nós, que olhamos para a
história sabemos que Deus não os abandonou. Entenderam?
Nós vamos por exemplo estudar a época da
crise ariana. Quando nós estudarmos a crise ariana nós iremos ver que foi uma
coisa terrível que a Igreja quase acabou! Já houve crise maior do que essa que
nós vivemos hoje! Com o arianismo a Igreja quase acabou! Virou tudo heresia! Só
havia no oriente Santo Atanásio que manteve a fé e alguns poucos bispos fiéis -
os três capadócios, lá na Capadócia, etc - mas o resto dos bispos todos viraram
hereges. No ocidente o pessoal continuou sendo Católico, mas os bispos do
ocidente eram poucos. Tinha o Papa e alguns poucos bispos no ocidente, a maioria
dos bispos eram do oriente e todo o mundo virou a casaca! Como diz São Jerônimo
em uma de suas Cartas: “Do dia para a noite o mundo acordou e se surpreendeu de
ver que era ariano”. Entendeu? Você acorda assim e vê que está todo mundo
ariano! Todo mundo herege! Do dia para a noite!
Hoje nós vivemos uma crise dentro da
Igreja? Vivemos. Já tivemos crises maiores? Já! E a Igreja morreu? Não, Deus
ficou do nosso lado! Mas olha gente, Santo Atanásio teve que suportar sete ou
oito exílios! Pancadaria! Briga! Confusão! Hoje, nós damos graças a Deus que ele
foi firme na fé! Mas quem vive a coisa no momento fica com vertigem, “Meu Deus,
vai acabar tudo, o mundo vai acabar, o mundo vai cair na nossa cabeça!” Então,
vejam como faz um bem enorme espiritualmente a gente estudar a história da
Igreja! Porque as crises atuais ficam pequenas diante das grandes crises que a
Igreja já teve que enfrentar!
A crise gnóstica – que foi antes da crise
ariana ainda – a crise gnóstica quase acabou com a Igreja também! Ou seja, a
Igreja nascente teve que enfrentar duas crises terríveis de fé! E quase morreu!
Mas Deus estava lá!
Então se nós continuamos firmes, se nós
continuamos na fé, se nós cremos e continuamos firmes na mesma Igreja de Cristo
esta crise que nós estamos vivendo hoje também passará! Ou seja essa nuvem vai
passar. E o sol vai brilhar.
Me permitam fazer uma comparação antes da
gente concluir dessa nossa missão de estudar a história da Igreja com aquilo que
é vivido no Senhor dos Anéis. No Senhor dos Anéis aquelas pessoas têm
consciência que elas fazem parte da história. Eu estou falando do livro, tá? No
filme essas coisas estão deslocadas em outros lugares, espalhadas pelo filme.
Mas quando Frodo e Sam estão em kiritungohn, perto da toca da aranha o Sam diz
para o Frodo claramente que eles fazem parte de uma história. E ele pergunta
assim: “Senhor Frodo, que tipo de história será que nós estamos fazendo parte?”
E ele começa a ver que de fato vai ser contada a história deles! E que, quando
eles chegarem na parte em que eles se encontram talvez as crianças ao ouvirem
aquela história terrível peçam, assustadas para a pessoa que está contando
fechar o livro. Eles têm essa consciência de que fazem parte de uma história. E
que essa história vai ser contada. E que, no entanto, mesmo sem esperança humana
visível eles continuam firmes.
No filme eles tentaram condensar essa
realidade que está dispersa no livro em vários lugares naquela cena chamada
“cena da janela” em Osguilhiaff, quando Frodo e Sam vão a Osguilhiaff (no livro
isso não aconteceu, eles nunca foram em Osguilhiaff, aquela cena lá não existe
no livro). Mas, no filme para você lembrar do filme é assim. Eles estão na
cidade, a cidade destruída e de repente aparecem os nasgull (os monstros alados,
não é) e tenta levar o anel do Frodo, o Frodo quase entrega o anel pro cara. E
aí o Sam pula em cima do Frodo, os dois rolam escada abaixo quando finalmente
então o Frodo pega a espada e vai no pescoço do Sam para matá-lo. E o Sam diz
assim: “Senhor Frodo, sou eu! O seu Sam! Você não reconhece mais o seu Sam?” Aí
o Frodo acorda daquele transe, deixa a espada cair, se encosta na parede e os
dois começam um diálogo. Então o Sam diz mais ou menos assim, que quando ele
ouvia as histórias importantes, aquelas histórias que verdadeiramente importavam
na sua infância ele não tinha percebido uma coisa que agora ele percebeu. Que
aqueles personagens aquelas pessoas nas histórias tiveram muitas chances de
desistir, de voltar atrás, de esquecer da sua missão, só que não desistiram. Não
desistiram porque estavam agarrados a alguma coisa. E aí o Frodo diz: “E nós,
Sam? A que nós estamos agarrados?” E o Sam diz: ”Ao fato de que existe o Bem no
mundo! E que vale a pena lutar por ele.”
Essa cena ela foi construída no filme para
tentar expressar cinematograficamente aquilo que é um pensamento que está
disperso no livro inteiro. Que é o fato que as pessoas quando vivem as histórias
não sabem o fim da história e, no entanto, elas poderiam desistir mas não
desistem e vão até o fim. Hoje nós podemos contar a história de Frodo e a
história de Sam - é claro que é uma história que nunca existiu mas se pudéssemos
dizer diríamos mas, se pudéssemos diríamos assim: “Hoje, passados séculos, nós
podemos contar a história de Frodo e a história de Sam”. Mas quando Sam e Frodo
estiveram vivendo aquelas histórias eles não sabiam qual era o final! Eles não
sabiam que iria haver vitória, eles não sabiam que eles iam conseguir realizar a
sua missão! Eles estavam imersos no problema. Mas aí o Sam diz lá no filme: “Mas
esta coisa – a coisa é a maldade – essa nuvem irá passar. No final o sol irá
brilhar mais claro do que nunca!” Então ele manifesta a esperança dele de que o
sol é mais forte do que a sombra, do que a nuvem.
Então vejam. Isso podemos aplicar na
história da Igreja. O Senhor dos Anéis é uma narrativa pré-cristã ou seja, o
cara que escreveu era Católico, mas ele narra um tempo em que Jesus não tinha
ainda existido e que os profetas não tinham existido e que Abraão não tinha
existido. Isso é milhares de anos antes que aquela cena lá aconteceu, entendeu?
Na idéia do escritor, do Tolkien. Então o Frodo e o Sam não sabem de Cristo, não
sabem da Salvação Divina. Mas eles continuam acreditando numa força do bem que
está conduzindo toda a história. Nós que sabemos, deveria ser muito
mais.
Nós que sabemos que Deus é fiel a Sua
Igreja, que ele não abandonará a Igreja e que nós estamos neste mundo para viver
na fidelidade e preparar o nosso Céu, que a nossa esperança está em Deus, não
está nas nossas forças, a nossa esperança não está nas forças dos membros da
Igreja porque nós não temos força para combater isso, gente! Nós somos hobbits!
Entendem? Nós somos pequenas crianças diante do Golias! O problema que a Igreja
está enfrentando hoje é muito grande e é maior do que a nossa capacidade de
resolver. Mas a história do Senhor dos Anéis nos mostra que dois hobbits fiéis à
sua missão mesmo sem esperança humana conseguiram chegar e destruir o
mal.
Se nós formos olhar na história da Igreja
nós iremos ver que hoje nós cantamos as glórias de tantas pessoas maravilhosas
do passado (Santo Atanásio, os padres capadócios, etc. e tal). Mas quando você
for analisar a história da Igreja você vai começar a ver os defeitos de
personalidade, de caráter e erros concretos que Santo Atanásio, São Ciro de
Alexandria, São Basílio Magno, que hoje nós consideramos grandes! Eles também
cometeram erros! Eles também tiveram momentos de hesitação! Também tiveram
momentos em que parecia que eles iam sucumbir! Também eles eram hobbits! Hoje
nós os consideramos grandes! Não é? Sam Wise, o grande; Frodo, o herói! Mas
quando eles viveram as coisas eles eram pequenos hobbits!
Os Santos também são assim! No seu
dia-a-dia, os Santos não foram reconhecidos como Santos! Foram questionados,
foram perseguidos, foram maltratados. Você pega a história da madre fundadora de
vocês, não é? Ela não foi aplaudida, não é? Muito pelo
contrário!
Você pega a história de Santa Teresinha.
Quando um padre foi visitar um Carmelo de Lisieux ele disse para a madre Maria
Gonzaga – que foi priora na época de Santa Teresinha – “Madre, essa irmã precisa
ser canonizada!” A Madre Maria Gonzaga, que viveu com Teresinha, que foi
superiora dela deu uma gargalhada e disse: “Se for assim todas as Carmelitas
precisam ser canonizadas!” Porque Teresinha não tinha nada de especial! Mas ela
era uma pequena. Ela era um hobbit. Porque existe uma força maior que
guia.
Então não fiquemos aqui pensando que neste curso de “história da Igreja” cantar as glórias, feitos heróicos de gente de uma estatura muito maior do que a nossa! Não! Nós vamos cantar as glórias e os feitos heróicos que pessoas pequenas e medíocres como nós fizeram assistidas pela graça de Deus. O que há de grande neles é uma presença invisível.
Então nós sabemos que nós somos parte de uma história que é muito maior do que nós. No livro “O Senhor dos Anéis” antes da grande batalha nos campos de palenora e na frente de minastirith um dos personagens diz assim: “Façamos atos heróicos dignos de serem contados de geração em geração, mesmo que não sobreviva ninguém para contá-los!” Mesmo que ninguém saiba o que você fez. Mesmo que ninguém sobreviva para contar o seu heroísmo. Faça! Seja fiel! Heroicamente! Porque é isso que fez a Igreja durante os séculos. Pequenos homens e mulheres assistidos pela graça muito maior do que nós!
Nós damos conta disso? É evidente que não damos conta. É evidente que não somos nada! É evidente que nós somos um bando de gente que não está à altura, nós somos Davi diante de um Golias! Mas Deus há de nos assistir! E Ele está conosco sempre.
fonte: padrepauloricardo.org
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